Por Raquel Lima Ramos,
coordenadora do Projeto Jovens Caminhos
Expoente mundial quando o assunto é educação, Paulo Freire foi um entusiasta do protagonismo do aluno no processo de aprendizado. Ele critica o modelo tradicional que chama de “educação bancária”, onde o professor deposita conhecimento nos alunos de forma passiva. Em vez disso, Freire propõe uma “educação problematizadora”, onde os estudantes são incentivados a questionar, refletir e participar ativamente do seu próprio aprendizado.
Não é outro o princípio que move o Projeto Jovens Caminhos senão esse em que Freire defende a educação como um ato de liberdade e transformação social. A cada aula, a cada trabalho de campo, a cada interação aluno-professor ou aluno-aluno, os jovens e adultos são vistos como sujeitos ativos, capazes de transformar a realidade ao seu redor.
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou sua construção”. Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia, 1996.
Os cursos de Arte-Educação e Grafite e de Programação e Criação de Sites do Projeto Jovens Caminhos tornaram-se possíveis graças a uma parceria entre Instituto Gea e Petrobras. Os cursos de Tecnologia da Informação contam ainda com a parceria do LASSU – Laboratório de Sustentabilidade da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Os cursos proporcionam um ambiente acolhedor e propício para que o jovem possa aprender e errar, mas sem ter medo ou vergonha de seu erro. Entendemos que o erro também é uma forma de aprendizado
Um ponto importante é que os professores disponibilizam em plataformas acessíveis todos os materiais e exercícios. Assim, o projeto estimula a ir além dos conteúdos apresentados em aula e a construírem, os próprios alunos, suas jornadas.
Outra influente educadora brasileira, Maria da Graça Nicoletti Mizukami, destaca a importância do protagonismo discente enfatizando que o professor deve atuar como um facilitador do conhecimento, respeitando o aluno como ele é e compreendendo seus sentimentos. O aluno é visto como sujeito ativo no processo de aprendizagem, elaborando e criando conhecimento por meio de suas experiências e interações com o meio.
O depoimento de Isabelle Alves da Silva, de 18 anos, moradora do Parque São Rafael, em São Paulo, mostra como é possível ganhar confiança e autonomia. Ela fez o curso de Programação e Criação de Sites, do Projeto Jovens Caminhos, agora cursa o programa do Paideia, uma especialização gratuita oferecida pelo parceiro do projeto, o LASSU.
“O curso do Jovens Caminhos me deu uma nova visão da Tecnologia, de que não é tão difícil, basta ter paciência e perseverança. Foi incrível para mim! Não tinha noção de nada sobre programação. As aulas mais interessantes eram as que envolviam a parte prática, como cálculos ou testar algum código”, disse ela ao portal do Instituto Gea.
E continuou: “Com o curso do Paideia, eu tenho planos de ingressar firme no mercado de trabalho e também saber mais sobre linguagem Python. Concluí o ensino médio e o próximo passo é a faculdade. Vou focar em ADS (Análise e Desenvolvimento de Sistemas). Creio que é uma das melhores opções para quem está começando”.
Acesso fácil e apoio
Sem dúvida, os pontos fortes do Projeto Jovens Caminhos estão não apenas na disponibilidade dos exercícios e leitura, mas também no acesso fácil aos professores e no apoio da monitoria aos alunos.
A literatura é generosa em difundir formas de promover o protagonismo do discente na aprendizagem. Mas algumas tocam mais de perto o Projeto Jovens Caminhos, entre as quais as Metodologias Ativas. Trata-se de princípio que coloca os alunos no centro do processo, incentivando-os a pesquisar, discutir e apresentar soluções para problemas reais.
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 1987.
Fazer dos alunos os figurantes principais em sala de aula envolve várias estratégias que incentivam a participação ativa e sua autonomia. Outra metodologia ativa adotada com profundidade pelo Jovens Caminhos está nos Ambientes Flexíveis. Ou seja, na criação de espaços que vão além da sala de aula tradicional, utilizando áreas externas, laboratórios e passeios de campo para atividades práticas e colaborativas.
Foi assim com as visitas ao Centro de Reciclagem do LASSU, na USP, onde aprenderam a importância de se ter uma consciência coletiva a respeito de reaproveitamento de materiais e descarte correto de resíduo eletroeletrônico. Lições de cidadania igualmente estiveram presentes em atividades culturais como as idas ao Beco do Batman e ao Instituto Tomie Otake, na Capital.
Superando temores
A educadora Maria da Graça Mizukami propaga entre as diferentes perspectivas educacionais a abordagem humanista, que valoriza a personalidade do indivíduo e suas relações interpessoais, e a abordagem cognitivista, que foca nos processos cognitivos e na capacidade do aluno de integrar e processar informações.
Para superar as limitações pessoais que os alunos sentem diante do desconhecimento da área que escolhem, o Projeto Jovens Caminhos desenvolveu técnicas específicas para enfrentar o desafio. É preciso quebrar padrões de pensamento que provocam esse temor e fazer de cada um o verdadeiro responsável pelo aprendizado de algo novo em sua vida.
Exemplo é o contrato obtido pelos ex-alunos de Arte-Educação e Grafite Vinicius Nascimento e Júlia Venture Reis, quando ainda estavam em curso, para pintar 17 metros de muro de uma loja de fantasias próximo ao Parque Regional de Santo André, na Grande São Paulo.
O contrato deixou Júlia Reis muito feliz e esperançosa de seguir em frente com intervenções em grafite, já que atuava até então com artes digitais e em paredes, como falou ao portal do Instituto Gea.
“Estava procurado um curso para me especializar mais nos desenhos em paredes que eu já fazia, mas na área do grafite não tinha vivência e prática. A melhor experiência foi ir para o muro, pois eu já tinha contato com tinta e pincel, mas nunca tinha mexido com spray”, alegra-se Júlia.
Com 22 anos de idade, Julia Reis cursava no início de 2024 o 4° período de Licenciatura em Artes Visuais no Centro Universitário Católico Ítalo-brasileiro em Santo Amaro, na Capital, onde mora. Especializar-se ao máximo dentro do mundo artístico é sua meta, seja para ampliar conhecimentos, seja para dar aulas.
“Me apaixonei pelo ensino de Arte-educação. Procuro me especializar e aprender diversas áreas como o grafite, para repassar futuramente. Pretendo ser professora de arte para ter uma renda fixa e atuar em artes em parede como uma renda extra”, diz a ex-aluna do Projeto Jovens Caminhos.
Referências: