Por Raquel Lima Ramos,
coordenadora do Projeto Jovens Caminhos
Em 2015, a Cúpula das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável deu um passo ousado ao estabelecer 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) para o mundo atingir até 2030, contendo 169 metas. Trata-se de um apelo global para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.
São 17 objetivos considerados ambiciosos e interconectados, que abordam os principais desafios que causam acentuada inquietação em todos os cantos do planeta e que convidam a todos a fazer sua parte, por menor que pareça. O Projeto Jovens Caminhos, uma parceria do Instituto Gea-Ética e Meio Ambiente com a Petrobras, abraçou três dos 17 ODS tendo como principal pilar a educação de jovens e adultos estabelecidos em regiões socioeconômicas vulneráveis da Grande São Paulo.
O Instituto Gea entende que a educação amplifica as oportunidades de ascensão econômica e social, e o resultado tem sido muito animador nestes dois anos de atividades, em 2023-2024. Para além de ensinar habilidades técnicas em Tecnologia e Artes, as duas áreas do conhecimento abrangidas pelo projeto, os cursos transmitem conceitos em educação socioambiental, cidadania e valores éticos.
A Equipe de País (conhecida por sua sigla em inglês UNCT) é o braço que maximiza o trabalho das Nações Unidas no marco dos ODS e dos demais compromissos internacionais. São três os Objetivos apoiados pelo Projeto Jovens Caminhos: 4, 5 e 17.
1. Erradicação da pobreza
2. Fome zero e agricultura sustentável
3. Saúde e bem-estar
4. Educação de qualidade
5. Igualdade de gênero
6. Água potável e saneamento
7. Energia limpa e acessível
8. Trabalho decente e desenvolvimento econômico
9. Indústria, inovação e infraestrutura
10. Redução das desigualdades
11. Cidades e comunidades sustentáveis
12. Consumo e produção responsáveis
13. Ação contra a mudança global do clima
14. Vida na água
15. Vida terrestre
16. Paz, justiça e instituições eficazes
17. Parcerias e meios de implementação
Educação inclusiva
Os ODS aglutinaram os temas em quatro dimensões: social (relacionadas à saúde, educação, melhoria da qualidade de vida e justiça), ambiental (ligadas à preservação e conservação do meio ambiente, proteção das florestas e biodiversidade, uso sustentável dos oceanos etc), econômica (abordando temas como consumo de energia) e institucional (ou seja, a capacidade de colocar em prática as ODS).
O ODS 4 tem como foco a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, que promova oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. A alfabetização de jovens e adultos e a qualificação para o mercado de trabalho são algumas das principais metas desse objetivo.
O movimento internacional AIESEC, que busca por meio da liderança jovem despertar as potencialidades humanas através de intercâmbio de conhecimentos, chama a atenção para o grande número de escolas fechadas ou sem condições de receber alunos, seja pela infraestrutura precária ou pela falta de profissionais capacitados para nelas atuar. Esse cenário impede que jovens concluam a educação básica, desenvolvendo suas potencialidades individuais desde a infância até o ensino técnico e superior.
“Para o atingimento do ODS 4, é necessário haver instalações adequadas para o ensino e professores aptos a transmitir aos estudantes princípios importantes de cidadania, valorizando a diversidade e o desenvolvimento sustentável”, atesta.
O Projeto Jovens Caminhos atua buscando não apenas a educação de qualidade, mas um modelo para desenvolver outras habilidades pessoais em jovens e adultos enquanto transmite conhecimentos.
Para o curso de Programação e Criação de Sites, realizado em parceria com o LASSU – Laboratório de Susteantabilidade da USP (Universidade de São Paulo), os alunos são orientados por professores do próprio laboratório e recebem monitoria com profissional formada também em Ciências da Computação. Para turmas de Arte-Educação e Grafite, as aulas são dadas por grafiteiros com experiência de mais de 15 anos e a monitoria conta com professor e arte-educador formado em Antropologia.
Além disso, os dois cursos contemplam 12 horas de aulas de Ética e Cidadania com professora mestre em Biologia e doutora em Saúde Pública e Ambiental, que aborda uma a agenda diversificada: resíduos, água, consumismo, direitos humanos, protagonismo e cidadania digital.
Mulheres empoderadas
O ODS 5 prevê alcançar a igualdade de gênero e empoderar mulheres e meninas. Algumas das metas deste objetivo incluem não dar trégua a todas as formas de discriminação contra mulheres, eliminar a violência de gênero e promover a participação feminina plena na sociedade e no trabalho.
Relatório da Universidade de São Paulo mostra que a igualdade de gênero se refere sobretudo à igualdade em direitos, responsabilidades e oportunidades das mulheres.
“Ainda vivemos em uma sociedade muito desigual em relação ao gênero e enfrentar esse quadro é fundamental para a existência de uma sociedade sustentável e justa”, lembra o artigo, que ainda aponta sérios obstáculos às mulheres em frentes como: excessiva carga de trabalho doméstico a partir do compartilhamento de tarefas e de oferecimento deficitário de serviços públicos (restaurantes e cozinhas coletivas e creches, por exemplo); violência contra mulheres e meninas; garantia de direitos reprodutivos e sexuais; discriminação baseada em raça, etnia, deficiência e cultura; pouca participação feminina na política.
Estatísticas mostram que as mulheres tentam conciliar, de modo bastante desigual, os afazeres domésticos e cuidados de pessoas com o trabalho remunerado. O estudo “Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil”, publicado pelo IBGE em março de 2024, mostra que, em 2022, as mulheres dedicaram em média 21,3 horas semanais aos afazeres domésticos e cuidando de pessoas. Já os homens gastaram bem menos: 11,7 horas fazendo a mesma coisa.
Em muitos casos, mulheres só conseguem empregos que ocupem menos horas durante a semana. Em 2022, 28% das mulheres trabalhavam em tempo parcial (de até 30 horas semanais), quase o dobro (14,4%) do verificado para os homens. A taxa de participação delas no mercado de trabalho foi de 53,3%, enquanto a dos homens foi bem maior: 73,2%.
Se no trabalho a situação das mulheres ainda é desigual quando comparada aos homens, o estudo aponta melhora quando o assunto é educação. Em 2022, pelo menos 92,5% de meninas de 15 a 17 anos estudavam, contra 91,9% de meninos na mesma faixa etária. Na população com 25 anos ou mais de idade, 35,5% dos homens não tinham instrução ou possuíam apenas Ensino Fundamental incompleto, contra 32,7% das mulheres.
No cenário de igualdade de gênero, o Projeto Jovens Caminhos dá sua contribuição de forma singular. Ambos os cursos são oferecidos a todos maiores de 16 anos, ou seja, o ponto de partida para uma profissão, e notamos grande número de mulheres inseridas tanto em Artes-Grafite como em Programação e Criação de Sites.
Até junho de 2024, conseguimos formar 88 homens e 72 mulheres, totalizando 160 alunos contemplados. Nos três últimos cursos, com previsão de formatura em dezembro de 2024, temos em Programação 14 homens e 24 mulheres; em Grafite, 5 homens e 13 mulheres.
Parcerias e meios de implementação
Já o ODS 17 reúne iniciativas dos demais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com propostas de ações coletivas e parcerias para o desenvolvimento global. As metas do ODS 17 estão agrupadas em cinco temas: Recursos financeiros, Transferência de tecnologia, Construção de capacidades, Acesso a mercados e Questões sistêmicas.
O Projeto Jovens Caminhos se identifica com o subitem 17.17 deste ODS, pelo qual o tema da Construção de capacidades se dá pelo incentivo e promoção de parcerias públicas, público-privadas e com a sociedade civil a partir de mobilização de recursos dessas parcerias.
Para que o Projeto pudesse ser bem aceito e inserido nas comunidades, o Instituto Gea realizou diversas alianças com escolas e associações locais dos municípios de Mauá e Santo André, na Região Metropolitana de São Paulo. Essas instituições tiveram a compreensão do momento e se dispuseram a ser o fio condutor que uniu Instituto Gea e alunos.
Há sempre um contato inicial, agendamento de reunião e apresentação da iniciativa. Após esses locais entenderem do que se trata, os transformamos em pontos importantes de divulgação e contato com os alunos. A acolhida foi muito gratificante. Lembramos que o Projeto não tem local fixo. Por ser itinerante, depende muito de parcerias.
Abaixo, os locais onde os cursos foram realizados:
Programação e Criação de Sites
T 01: Associação Amigos do Jardim Oratório, Mauá, SP
T 02: Associação Amigos do Jardim Sônia e Sílvia Maria, Mauá, SP
T 03: Centro Público de Formação Profissional João Amazonas, Santo André, SP
T 04: Paróquia São Luiz Gonzaga, Mauá, SP
Artes Grafite
T01: Associação Amigos do Jardim Oratório, Mauá, SP
T02: Casa do Hip Hop Mauá , Mauá, SP
T03: Associação Amigos do Jardim Sônia e Sílvia Maria, Mauá, SP
T04: Associação Amigos do Jardim Sônia e Sílvia Maria, Mauá, SP
T05: Centro Público de Formação Profissional João Amazonas, Santo André, SP
T06: Centro Público de Formação Profissional João Amazonas, Santo André, SP
T 07: Associação Amigos do Bairro Vila Magini, Mauá, SP
T 08: Associação Amigos do Bairro Vila Magini , Mauá, SP
As pessoas e as associações foram fundamentais para a execução do Projeto Jovens Caminhos. Estabelecemos boas parcerias e sempre temos a oportunidade de retorno nessas comunidades. Vários jovens e adultos seguiram carreira ou simplesmente tiveram um primeiro contato com Tecnologia e Grafite, como podemos conferir nas entrevistas ao portal do Instituto Gea: https://institutogea.org.br/category/noticias/novidades/
Referências
https://www.fsp.usp.br/sustentarea/2020/08/22/ods-5-igualdade-de-genero